segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Ferrinho de Engomar

 
 
Ferrinho de Engomar
 
Aqui nesta casa, situada em plena Rua Extrema (agora Rua João de Deus) onde eu fui várias vezes, morava aí um colega meu na(s) Escola(s) - Primária e Secundária.
 
Esta Rua, durante muitos anos, foi objecto de cheias: bastava cair um pouco mais de chuva e lá andava o pessoal a meter os taipais nas portas.
Ele morava no primeiro andar, e francamente não sei como era no rès do chão porque a entrada dessa casa era do lado da Rua Almeida Garrett, mas lembro-me que uma vez ele me mostrou as marcas na parede e que praticamente a água chegou até ao bordo do segundo lance da escada (para aí 2 metros, talvez).
 
Esse problema foi resolvido não sei bem como, normalmente a Escola Primária logo em frente não tinha grandes problemas, mas estas casas estavam no seu enfiamento todas elas abaixo do nível normal do solo.
 
Ora, aqui nesta esquina, onde estão agora os contentores do lixo, havia uma casinha, baixa, em triângulo, que ocupava precisamente o espaço de esquina que leva até ao final do agora baldio (provavelmente entretanto já ajardinado) e que era conhecida como «ferrinho de engomar» dada a sua forma e tendo em atenção a forma dos ferros de engomar.
 
Durante as minhas andanças perdi-a de vista mas quando revi o local anos depois já ela lá não estava. 

Estradinha Funda

 
 
Estradinha Funda
 
A escritora farense Lina Vedes tem um texto sobre a Estradinha Funda (aqui: http://www.raizonline.net/duzentosedoze/dozeaaa.htm) (este link já não funciona, as nossas desculpas) e a imagem que apresentamos acima foi-nos fornecida pela Lina Vedes e representa a dita Estradinha numa altura recuada, provavelmente já distante do período de «má fama» da mesma, mas ainda no estado lastimoso em que muitos a conheceram.
 
Eu passava ali para ir à nespera nas Hortas e já contei algures que a GNR ia patrulhar por aqueles lados e tinha o triste hábito de enfiar com os cavalos por aquele estreita «estradinha» e que para nosso azar constante entrava em baixo quando nós estávamos quase a chegar ao fim dela.
Tinhamos de recuar correndo porque o espaço era curto e não dava mesmo para encostar à parede sequer e a eventualidade de ser pisado pelas patas de um cavalo não era assim tão remota nem desejável.
 
Ora, fiz uma foto (Google) da entrada actual da Estradinha Funda e pode verificar-se que aquilo que se alterou nela em cerca de 30/40 anos foi o facto de terem colocado portões deste género (em baixo é igual) embora haja uma vantagem que inibe, pelo menos, o seu uso: a vizinhança de uma habitação, aqui em cima (Santo António do Alto).
 
Quanto à parte de baixo não há qualquer vizinhança inibidora e as ervas e troncos de pequenas árvores são praticamente uma selva virgem.
   

Casinhas perto do Estádio S. Luís (Bairro Centenário)

 
 
Casinhas perto do Estádio S. Luís (Bairro Centenário)
 
Estas casinhas baixinhas, com uma arquitectura antiga e já com muitos anos de existência, estiveram para ir abaixo quando da construção dos desproporcionados blocos da Chasfa em frente.
 
Segundo informações que terão sido dadas pelo responsável da Chasfa na altura e depois Presidente da Câmara Luís Coelho, num debate pré-eleitoral que teve lugar no Teatro Lethes aqui há uns anos, estas habitações têm à volta de 5 vezes maior densidade populacional do que aquilo que é actualmente permitido por lei. Mas na altura da construção estava tudo legal...
 
De qualquer forma, o que interessa é que estas casinhas acabaram por ficar aqui, proporcionando um contraste (pobre) com os enormes blocos ao fundo, mas são um dos últimos resquícios da habitação tradicional naquela zona.
 
Foram arranjadinhas, algumas estavam mesmo muito maltratadas e não sendo uma grande lufada de ar fresco no sítio, sempre dão um jeito...

 

Casa do Nugas

 
 
Casa do Nugas
 
Esta casa que se vê aqui à esquina, coberta a azulejo, no cruzamento entre a Rua do Bom João e a Rua Antero de Quental foi a casa do Sr. Nugas, que teve um estabelecimento de barbearia na Baixa (Largo Terreiro do Bispo com Rua Filipe Alistão) que foi um centro importante de convívio, como eram muitos barbeiros tradicionais.
 
O Sr. Nugas vendia também lotaria que tinha exposta nas vidraças e eu apenas via a sua chegada a casa, numa lambreta, que tinha na altura. Não me parece que tenha estado muito relacionado com o bairro, em si, não me recordando eu da sua presença na Sociedade os Bonjoanenses que era o centro aglomerador da vizinhança na altura (anos 50/60).

 

Recordações de uma casa amarela

 
 
Recordações de uma casa amarela
 
A casa amarela, entaipada, que se vê na imagem entre dois blocos de moradias de construção mais recente tem uma história e com o decorrer dos anos é bem capaz de ficar na história de Portugal mesmo.
 
Esta casa esteve ocupada, a seguir ao 25 de Abril, por pessoas regressadas das colónias e não só, algumas delas já residentes no prédio antes do processo de ocupação.
 
Não conheço o processo em detalhe mas sei que houve luta feroz da parte dos ocupantes e que na altura o MFA teve de intervir também quando se vislumbrava o despejo.
 
O pessoal que aqui vivia foi alojado na sua maior parte no «famoso» Bairro ainda Provisório (há 35 anos sensivelmente) da Horta da Areia, construído com casas em madeira. Ora tudo isto teve lugar por volta de 1977/78, mais ano menos ano.
 
Conseguido o despejo e o alojamento das pessoas que lá viviam tudo levaria a supor que neste lugar nascesse um novo prédio e, pela celeridade então imprimida ao processo, despejo/realojamento, eu já antevia a chegada dos camiões da construção assim que a última cadeira saísse do prédio.
 
Pois...35 anos depois continuo a antever isso...

Escola de S. Luís

 
 
Escola de S. Luís
 
Uma parte substancial dos alunos de Faro andaram aqui nesta escola, uma vez que só havia mais a Escola do Carmo e a da Sé, que eu me lembre.
 
No meu tempo de criança lembro-me de ter havido uma escola primária no Bom João, a duas ou três portas a seguir ao Beco para cima já na Rua Ataíde de Oliveira, isto depois de o João Manjua Leal, numa tertúlia nos Bonjoanenses ter referido que deu aulas um pouco lá mais para os lados da Casa dos Rapazes.
 
Neste caso, da Rua Ataíde de Oliveira, não sei como mas a professora acabou por ficar com a casa e abriu uma mercearia passando a denominar-se «Mercearia da Vizinha» em vez de Escola Primária do Bom João.
 
Esta mercearia que refiro passou depois para uma garagem que já tinha sido oficina na Rua José de Matos (ao lado da casa dos Brito) e que foi abandonada pelos mecânicos Brito familiares entre si, e dos que ficaram,  devido ao seu êxodo para a Venezuela.
 
Segundo o Montarcílio Estrela me disse há tempos estes fizeram uma grande festa de despedida como era uso na altura, coisa que eu não sabia, do uso das festas de despedida. No meu tempo quem emigrava ia «a salto» para França maioritariamente pelo que nem sequer se dizia que se estava de partida.
 
Passando a piada e voltando à Escola de S. Luís a minha maior forte recordação é do primeiro dia de aulas em que os alunos eram quase tantos como as mães que lá estavam a despedir-se deles.
 
No meu caso e de muitos outros isso não se passou: uns quantos dias antes disseram-me (a minha mãe) «é aqui!» embora eu já soubesse, no dia 8 de Outubro meteram-me a malinha nas mãos e disseram-me «está na hora» e tudo correu muito bem.
 
Eu estou a gozar um pouco com isto das mães e dos filhos serem entregues por mão própria na Escola mas anos mais tarde vim a conhecer o problema: tive de levar a minha filha três vezes à sala de aula para a conseguir lá deixar ficar.
 
Como resumo, deste longo texto: uma escola não são só as paredes, o recreio e os professores; é também um conjunto de recordações.
 

Stand Mavico

 
 
Stand Mavico
 
Aqui é ainda, mas ao que suponho com materais de venda diferentes de há 30/40 anos, o - ao que me lembro -  primeiro Stand de motorizadas originais em Faro, se descontarmos um outro que houve na Rua General Humberto Delgado, da Cocciollo e /ou Pachancho que não eram motorizadas (motociclos) com motor a três tempos.
 
Em rigor a Mavico, por aquilo que soube, não era uma fábrica de motorizadas, mas sim uma fábrica de montagem de peças de motorizadas que através de modelos próprios exteriores na embalagem (carroçaria se quisermos) conseguia ter os seus modelos próprios, trabalhando com materais produzidos noutras fábricas e nomeadamente com a Famel de Agueda, cuja porta é logo ao lado mas só apareceu depois, também segundo me lembro.
 
A «febre» das motorizadas teve o seu apogeu por meados dos anos 50/60 do sec. passado e à volta dela foi criada uma estrutura com relações de dependência de sub-tratadores, tal como vendedores de pneus, oficinas de reparação, etc.
 
Hoje praticamente não há motorizadas, ou há muito poucas comparativamente com esse tempo, sendo mais usada a lambreta, que curiosamente no tempo inicial em que apareceu não conseguiu vencer em termos de vendas estas. Fá-lo agora...

 

Casa Espírito Santo

 
 
Casa Espírito Santo
 
Ora aqui, esta casa de esquina, aqui pintada de castanho meio-escuro, fica em frente à casa que foi uma Escola Primária no Bom João (embora agora já não esteja lá, nem a Escola nem a casa: está um prédio com 4 andares), morou, segundo a minha memória o Paulo Espírito Santo (vulgo Paulito e Paulinho) a respectivos pais.
 
Mas, segundo o Mauricio Severo Domingues (ver aqui: http://www.facebook.com/photo.php?fbid=530719600302690&set=a.314143928626926.71102.310830955624890&type=1&theater ) e cito «Em frente da Escola, na casa do canto, residia o Capitão Leote, pai do actual também Capitão Eugénio Boal Vieira Leote e duas filhas , ambas já falecidas.».
 
Assim teremos que antes da família Espírito Santo terá aqui habitado a família Boal Vieira Leote.
 
Pois bem, eu não me lembro de alguém outro morar naquela casa o que me leva a supor (com elevado grau de certeza) que pode ter havido um lapso de tempo em que a família do Capitão Leote lá tenha morado e eu não ter dado por ela e a razão é simples: eu só dei pela família Espírito Santo lá morar porque esta tinha um filho da minha idade, mais um ano ou dois salvo erro.
 
No enfiamento deste renque de casas vê-se a seguir uma casa, agora coberta de azulejos e que na altura era de arquitectura semelhante à da esquina aqui referida (embora sem varanda) que foi a casa dos avós do Luís de Camões que ainda por lá passou salvo erro um ou dois anos e ia lá visitar os avós, embora morasse na zona do Pé da Cruz.
 
Mais abaixo e à esquina será então uma casa já aqui falada (ver aqui: http://www.facebook.com/photo.php?fbid=528065633901420&set=a.314143928626926.71102.310830955624890&type=1&theater ) que foi onde morou o Carlos Gomes e posteriormente o Manuel Adanjo Inácio.
 
Esta casa da esquina ainda hoje é da família Espírito Santo tendo lá vivido uma filha até há bem pouco tempo e continua a ser mantida por um ou mais netos (não estou certo neste ponto).
 
A família Espírito Santo era o objecto inicial desta foto que tinha em carteira devida a três particularidades podendo elas não serem muito importantes para outros, mas que para mim são o fio da meada memorial: a mãe do Paulito era de origem brasileira e durante os cerca de 15/20 anos que a conheci ali manteve sempre o sotaque brasileiro (Dª Inês se chamava).
 
O pai do Paulito parece-me que era bancário, nunca soube exactamente o que ele fazia, mas sabia que ele tinha um carro (anos 50 talvez) que a ser mantido no estado em que ele sempre o manteve, hoje valeria seguramente uma pequena fortuna.Tinha-o numa garagem na Rua Pedro Nunes, logo acima e só o retirava quando tinha de viajar. Era mesmo um belo carro!!
 
O Paulito cresceu, foi para Lisboa, ainda veio cá uma vez ou duas mas acabei por o perder de vista. Andou no Liceu de Faro.
 
  

Legião Portuguesa

 
 
Legião Portuguesa
 
Aqui neste edifício foi a sede farense da Legião Portuguesa, organização cuja função e posição no quadrante político do Estado Novo nunca entendi muito bem.
 
Colavam cartazes da União Nacional, faziam acções de informação sobre Defesa Civil e contra catástrofes (como reagir a um sismo, por exemplo), levavam cinema propaganda aos locais, cidades e aldeias nomeadamente sobre controle de natalidade para os mais pobres, apresentavam os bichinhos da higiene pública ao detalhe sendo muito gozados quando referiam a fauna púbica e enfim, tinham uma estrutura militar por aquilo que percebi porque o legionário para emigrar tinha de pedir licença e obtê-la.
 
Conheço uma pessoa que foi para a Alemanha sem dar cavaco e depois sentiu-se muito receoso para regressar a Portugal de férias o que só veio a fazer depois do 25 de Abril.
 
Tinham umas fardas extraordinariamente verdes (nunca vi um verde tão verde) e faziam exercícios de defesa civil do território com sacos de areia e estavam nesses exercícios encarregados de encaminhar as pessoas para os abrigos anti-aéreos.
 
Não era nada conveniente no entanto dizer-se em frente de um legionário que não se era adepto da União Nacional.
 
O partido socialista ocupou o local logo em 1974, pelo que sei, e por lá se tem mantido. 

Anexo da Estalagem Caíque em Olhão

 
 
Anexo da Estalagem Caíque em Olhão
 
Esta casa que aqui se vê, um «apalaçado» seguramente devoluto e com grandes hipóteses de não ser recuperado senão para uma subida em flecha, foi durante algum tempo um Anexo da Estalagem Caíque, que depois foi Sol e Mar ou coisa que lhe valha e foi o primeiro Hotel de jeito que houve em Olhão nos anos 60/70.
 
Tinha 35 quartos e quando enchia (porque enchia no Verão) as pessoas eram direccionadas para o Anexo, quando queriam, é claro.
 
Tinha no entanto um problema de casas de banho, esta casa, (só tinha duas) e não havia água corrente nos quartos, pelo que era engraçado ver o tradicional lavatório, com jarrinho com água e bacio e a toalhinha pendurada em cada quarto.
 
Nota: fica no cruzamento da Rua 18 de Junho com uma rua cujo nome me não lembra e não se consegue ver na placa.