terça-feira, 21 de maio de 2013

Bom filme na Esplanada de S. Luís (anos 60)

Bom filme na Esplanada de S. Luís (anos 60)
Ao ver uma imagem da Antiga Esplanada do Cinema de S. Luís em Faro, mais tarde substituída por um conjunto de imóveis, lembrei-me (em alturas da Grândola, Vila Morena) que tinha eu aulas com o Zeca Afonso, na Escola Industrial e Comercial de Faro, quando entre as conversas que se iam tendo ele anunciou que ia passar nessa Esplanada (estávamos em meia estação, Junho ou Julho) o Filme «A Ilha Nua».
Fiz uma recolha sobre este filme, que já tinha procurado há meses sem o conseguir encontrar (faltava-me o nome do realizador - o japonês Kaneto Shindô) e abaixo deixo essa nota com link para o vídeo com o filme completo, mas antes gostaria de referir como foi recebido esse filme pela «crítica» farense.
Quem vive ou viveu em Faro sabe que havia uma clientela constante no (s) cinemas. Os dois que havia eram do mesmo proprietário, salvo erro Castello Lopes gerida pelo saudoso poeta e senhor da cultura farense Marques da Silva (Marmelada).
Assim essa clientela «certa» ia ver tudo o que era filme (ainda fiz isso uns quantos anos também) uma vez que a televisão era ainda rara, os programas eram pouco atractivos, enfim... e o Cinema (como local) era um excelente meio de convívio: antes dos filmes, nos intervalos e depois dos filmes.
Pois bem, os «intelectuais» bebiam o filme como mandava a praxe (mesmo que não gostassem) e os habitués protestavam contra o dito. Bem, de esclarecer que a história era interessante e já a conto lá mais para a frente, mas o filme tinha um problema que era a ausência de diálogos, ou seja, era um filme em que a única coisa que se ouvia era o ruído de fundo: do mar, do chocalhar dos baldes, do barco, enfim, os dois personagens, marido e mulher, não diziam uma palavra entre si. Dedicavam-se à sua faina por inteiro.
Ora a faina era plantar arroz numa ilhota (nua - daí o nome do filme) que não tinha água. Esta era transportada em baldes dentro de um bote, retirada nos baldes e levada a regar os pés de arroz que se estendiam por uma encosta. Todo o filme retratava isso, o dia a dia do casal, que não fazia mais nada de manhã à noite. Salvo erro nem se vê eles a comer...mas aqui passo à visão do filme.
A parte «moral» tinha lugar no fim, em que o marido ia entregar uma parte do arroz colhido ao proprietário da Ilha. O que eu me lembro bem de ter notado é que as pessoas não protestavam (aquelas que protestavam) contra a lentidão e as repetições das cenas, mas sim pelo filme não ter «palavras = diálogos».
Aconselho este filme, tendo em atenção saber-se que o cinema japonês desde há muitos anos (este filme é dos anos 60) dá cartas em termos de qualidade e inovação.
Daniel Teixeira
«A Ilha Nua», do cineasta japonês Kaneto Shindô.
O filme apresenta a rotina de uma família de pescadores que habita uma das ilhas do oeste do Japão, lugar de belas paisagens e também de desafios para a sobrevivência da família como a escassez de água e alimentos.
Apresentando nuances de documentário, “A Ilha Nua” apresenta uma poesia visual da vida do homem simples em meio às adversidades da natureza, tudo isso junto com uma trilha incidental que ganha destaque devido à ausência de qualquer diálogo no filme.
“A Ilha Nua” venceu o Festival de Moscou e foi candidato ao BAFTA, maior prêmio do cinema inglês. É um clássico do cinema japonês feito pelo diretor de “Onibaba, A Mulher Diabo”, que marcou toda uma geração de cinemaníacos no início dos anos 60.

Filme completo aqui (1h 36 m)

As outras figuras típicas

As outras figuras típicas
Há dias, bastantes, passei por um blogue de Coimbra e acabei por me deter um pouco mais: o meu objectivo era encontrar figuras típicas algarvias e entre elas o Gaiana e outros, que fizeram parte da história da cidade de Faro. Fui ter a Coimbra chamado por uma imagem na google e por ali fiquei preso durante o tempo necessário pela reflexão do titular do Blogue «Questões Nacionais», Luís Fernandes.
O chavão de que as palavras são como as cerejas aplica-se usualmente nestes casos, mas o texto do Luís Fernandes chamou-me a atenção para uma outra perspectiva daquilo que faz entrar dadas pessoas dentro da denominação de «figuras típicas» sem que o sejam de facto, não porque não façam parte do ambiente citadino, não porque por exclusão de partes as tenhamos de englobar nesta denominação, mas porque, «simplesmente» não são figuras naquele sentido activo do termo, não sobressaem, não se fazem notar. E é disso que o Luís Fernandes fala e cuja dissertação eu vou aproveitar.
Relata o autor dois casos que são interessantes, dentro desta semi - trágica situação que é a vida em sociedade. Vou ser um pouco mais longo do que previ ao começar este texto mas interessa referir que este autor no seu blogue analisa o número de visitas ao seu Blogue de acordo com estes eventos que noticia, tentando demonstar uma plausível tese, de que «aqueles que da lei da sombra se não libertam em vida acabam por libertar-se dela após a sua morte.»
Cito
a) (...) Há um ano, na data de 26 de junho, faleceu o Luís Miguel, mais conhecido entre nós por «Aspirante» – o Luís tinha 40 anos quando num estúpido acidente adormeceu na berma do Mondego e, segundo o pai Max, veio a cair no rio. Era tratado pela alcunha de «Aspirante» precisamente porque fora a patente que tivera enquanto cumprira o serviço Militar.
Enquanto decorria o tempo de tropa viera a sofrer um grave desastre, em que faleceu um seu amigo. Pelos danos causados, nunca mais recuperaria o senso. Durante muitos anos vagueou pela cidade. Aparentemente, não desencadeava exteriorizações de extraordinário afeto. Parecia ser apenas mais um personagem que deambulava pelas ruas estreitas e largas do casco urbano de uma cidade velha.

Quando, nessa altura, escrevi a crónica a anunciar o seu precoce desaparecimento, para além de ter recebido mais de uma vintena de comentários dolorosos e a lamentar a sua morte, só nesse dia tive 8438 visitas aos textos que reportavam a sua passagem entre nós – a média diária de visitantes assinalados anda por volta de 500.
b) (...) Há dias escrevi sobre a morte súbita do Adelino Paixão, noticiada pelo jornal Diário as Beiras - o Paixão, tal como o Luís Miguel, era mais uma figura típica da Baixa que, também na aparência, poucos lhe ligavam. Nesse dia, abruptamente, o blogue disparou também o contador de visitas.
(Fim de citação)
A reflexão do autor sobre este facto estende-se por planos que agora aqui não cabem, tal como a nossa atitude perante o outro (o ignorado) e a nossa visão no outro (ignorado) daquilo que nós poderiamos ser e não somos, pelo que aconselho vivamente uma leitura do texto completo aqui .
Ora bem, e regressando ao fulcro da minha questão, eu fiz uma pesquisa, sobre as figuras típicas e encontrei referências a algumas que andaram aqui por Faro, tal como o Gaiana, O Menino Chico, O Tóki. Contudo não encontrei uma única referência ao «Marrequinho da Chaveca».
Certo que ele faleceu cedo, para quem tem memória dele eu teria talvez os meus dez anos ou pouco mais ou pouco menos. Não era, por aquilo que me fui lembrando uma figura extremamente popular, mas andava por aí, pela cidade.
Depois soube-se do seu falecimento em cirunstâncias horrorosas, num daqueles crimes que agora são juridicamente apelidados de horrendos. Apareceu na Chaveca (arredores de Faro) onde vivia numa ruína enforcado numa árvore, enfiado dentro de uma saca de juta, assassinado provavelmente por alguma «brincadeira» daquelas que por vezes são notícias nos jornais quando se trata de dementes ou pessoas com poucas capacidades.
Não foi morto (enforcado) e colocado dentro da saca: foi enforcado dentro da saca. Nunca se soube quem terá (terão) sido o (s) assassino(s) e duvido que naquela altura houvesse grande preocupação das entidades responsáveis para levar longe o inquérito. Afinal sempre era um «zé ninguém»...
E por aqui me quedo com uma reflexão sobre as reflexões do eu e do outro e do outro de nós mesmos: o que levou ao anonimato quase total do «Marrequinho da Chaveca»? Enquanto viveu muitos reparam nele, não era uma daquelas personagens descritas acima pelo Luís Fernandes.
Faleceu em circunstâncias marcantes. Não vi quem falasse nele. Talvez, penso eu,  porque o mais marcante na vida dele tenha sido a forma como morreu.
Paz à sua alma...

Ver e ouvir - Crónica de Daniel Teixeira

Ver e ouvir - Crónica de Daniel Teixeira
 
Eu sei que não é muito próprio estar sentado num café, ou em qualquer lugar, e ouvir a conversa que se passa entre os habitantes da mesa ao lado. Deve-se fazer ouvidos de mercador, de um mercador de silêncios, deve-se fazer de conta que não se ouve, mas ouve-se na mesma e as palavras ditas logo ali ao lado entram-nos pelo espírito dentro, sentam-se na cadeira da nossa existência e lá conquistam o seu lugar cativo.
Em certo sentido acabamos por fazer parte da conversa que se passa ao nosso lado, se disso não formos distraídos por outras coisas que consideramos mais importantes, emitimos interiormente aprovação ou desaprovação sobre aquilo que é narrado e criamos a nossa opinião. De meros ouvintes, consoante o teor e o interesse da conversa, passamos a ser actores nela, só que seremos sempre actores passivos. Ou pelo menos é desejável que assim seja...
Não se tendo passado num café o que vou contar a seguir, quero mostrar como é fácil, por vezes, passar-se de espectador a actor e em certo sentido apropriarmo-nos do próprio palco.
Cinema de Santo António em Faro (Já demolido)

Vem-me à memória agora um filme do Joselito «Coração de Ouro» que eu vi no defunto Cinema de Santo António, em Faro, que apresentava uma cena em que o na altura jovem Joselito vinha, já noite, após ser abandonada à sua sorte ao que me lembro, de uma travessia longa de dias de um território deserto, tropeçando com o cansaço, cheio de sede e fome e encontrou um cowboy que à volta de uma fogueira assava no espeto aquilo que parecia ser um coelho. 
Era pouco falador o cowboy e respondeu com um resmungo às boas noites do miúdo (acho que em termos cinematográficos ele representou um miúdo até aos vinte e tal anos) e o Coração de Ouro acabou por se sentar no chão perto dele e ficar a olhar com a pouca água que deveria ter no corpo a escorrer pela boca. Os minutos passaram-se e o cowboy não desatava nem comida nem água para o quase prostrado Joselito que de vista turvada já só via coelhos flamejantes a correr pela pradaria.
Demorou tempo, o cowboy estava numa de brincadeira, talvez testando a resistência do ocasional colega até que este lhe pedisse alguma coisa: água e comida (um pouco daquele coelho assado que estava logo ali, de preferência). E o Joselito, de cara esmolar mas em dizer palavra, olhava para o cantil e para o coelho que rodava no espeto, seguia milímetro a milímetro o percurso da faca do cowboy que com minúcia retirava finas fatias de carne e as levava à boca, mastigava-as, engolia, bebia um gole de água e ainda por cima fazia estalar a língua de prazer.
Esta comovente e sádica cena deixou o público de lágrimas nos olhos por muito tempo. Até que um habitante da plateia, não se contendo mais, se levantou e em voz bem alta, implorando e vociferando soltou um sonoro: «Dá comida ao miúdo, meu grande c...».


Claro que o drama joselitiano continuou só na tela: ninguém mais se interessou por ela; o homem, o actor do momento, o homem da hora, estava na plateia, logo ali, recebia até aplausos, embora houvesse no ar uma grande sensação de gozo.
Os verdadeiros actores estavam agora todos na plateia e o drama passou a comédia num ápice. E eu vi, naquela noite, aqui em Faro, em dois minutos as Origens da Comédia enquanto que Nietzsche teve de fazer um livro de razoável volume para descrever as Origens da Tragédia.
E o Joselito poderia ter tragicamente baqueado ali, logo nas nossas costas, à vontade do realizador que isso passou a ser indiferente.
Daniel Teixeira
Crónica

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Côca, Biuco e Capelo

Côca, Biuco e Capelo
 

 
A Côca, o Biuco e o Capelo são três trajes de diferentes regiões, Alto Alentejo, Algarve e Ilha Terceira (Açores), no entanto, apesar da distância geográfica existem muitas semelhanças entre eles e uma história comum.
 
 
Sabemos hoje que os etruscos e os gregos vestiam o himation, ou seja, o manto, com o qual cobriam a cabeça. Possivelmente imitavam um costuma mais antigo. O Cristianismo adoptou para a imagem da Virgem o uso do manto à moda etrusca, isto é, sobre a cabeça. São Paulo introduz o costume das mulheres cobrirem a cabeça para que se distingam das mulheres descobertas ou meretrizes. Entrar na igreja com a cabeça coberta era sinal de respeito, submissão e humildade perante Deus.
 
Por toda a Europa surgiram diversas peças de vestuário que cobriam por inteiro o seu utilizador(a), nomeadamente, em França, Alemanha, Dinamarca, Itália, Espanha e Portugal.
Não se sabe quando este tipo de indumentária foi introduzido em Portugal, no entanto, podem-se encontrar registos da sua utilização desde 1609, no reinado de Filipe II, e existem autores que defendem a sua origem árabe.
 
Sabe-se no entanto, que a sua utilização abrangia a quase totalidade do território nacional, mas apenas no Alto Alentejo, no Algarve e nos Açores, esses trajes eram ainda utilizados até meados do século XX.
 
A sua utilização destinava-se a impedir o contacto da mulher com os transeuntes que com ela se cursassem na rua, ocultando a sua identidade. Para além de isolar a mulher do mundo exterior, permitia-lha também alguma liberdade, já que não sendo identificável podia movimentar-se livremente oculta dos olhos castradores da moralidade alheia.
 
 
O que são a Côca, o Biuco e o Capelo?
 
 
Estes três trajes femininos possuem pequenas variações, ou particulares alterações regionais, no entanto, a sua forma elementar baseava-se numa mantilha, com ou sem véu, amplamente distribuída, de norte ao sul do país, e que teve a generalizada denominação de biôco (ou biuco no Sul e rebuço no Norte).
 
 
Genericamente compõe-se de uma capa, mais amplas e compridas nos Açores e Algarve que no Alentejo, em cuja cabeça era coberta de forma a impedir que se visse a cara da sua utilizadora.
 
 
É a forma como a cabeça é coberta que distingue os três trajes.
 
 
 
 
 
Côca –Alto Alentejo
 
 
As côcas terão sido um traje de noiva na nossa região, na segunda metade do século XIX. A tradição oral também afirma que a dimensão e colocação do véu tinha três posições distintas, consoante a classe a que pertencia a nubente.
 
Mas, como traje de noiva acabou por cair rapidamente em desuso enquanto tal, passando a ser fundamentalmente moda nas mulheres aristocratas ou da alta burguesia de todas as idades, quando estas saíam à rua para assistir a actos religiosos ou nas visitas, tão habituais nestas classes sociais entre finais do século XIX e princípios do XX.
 
Usavam uns biôcos, pegados a uma espécie de capa curta e que eram cobertos, no alto, por uma renda larga, que caía pelas costas. Na frente o biôco era armado em papelão, ou tarlatana, para se manter aberto. Em alguns, a renda era colocada, como já disse, caindo do alto da cabeça sobre as costas, outros porém, era posta em sentido contrário, isto é, sobre a cara. Completava o trajo uma saia de merino.
 
José Leite de Vasconcellos, observa que este seria o «trajo clássico de se ir à festa do Sacramento, que durava de quinta-feira do Corpo de Deus até à segunda-feira seguinte». O célebre investigador apresenta uma testemunha ocular que, entre os anos de 1862 e 1866, terá visto as mulheres assim embiocadas, e explica que este processo só era possível mediante a utilização de «um papelão curvo que encobria a cabeça, como as mantilhas de Mondim, coberto de preto e com pano nas costas».
 



 
O biôco (ou biuco) – Algarve
 

Raul Brandão escreve a propósito do biuco no seu livro "Os Pescadores", em 1922:
" Ainda há pouco tempo todas (as mulheres de Olhão) usavam cloques e bioco. O capote, muito amplo e atirado com elegância sobre a cabeça, tornava-as impenetráveis.
 
É um trajo misterioso e atraente. Quando saem, de negro envoltas nos biocos, parecem fantasmas. Passam, olham-nos e não as vemos. Mas o lume do olhar, mais vivo no rebuço, tem outro realce... Desaparecem e deixam-nos cismáticos. Ao longe, no lajedo da rua ouve-se ainda o cloque-cloque do calçado - e já o fantasma se esvaiu, deixando-nos uma impressão de mistério e sonho. é uma mulher esplêndida que vai para uma aventura de amor? De quem são aqueles olhos que ferem lume?... Fitou-nos, sumiu-se, e ainda - perdida para sempre a figura -, ainda o som chama por nós baixinho, muito ao longe-cloque..."
 
Trata-se de uma capa que cobre inteiramente quem a usava. A cabeça era oculta pelo próprio cabeção ou por um rebuço feito por qualquer xaile, lenço ou mantilha. As mulheres embiocadas pareciam “ursos com cabeça de elefante”
 
Oficialmente a sua extinção ocorreu em 1882 e por ordem de Júlio Lourenço Pinto, então Governador Civil do Algarve, foi proibido nas ruas e templos, embora continuasse a ser usado em Olhão até aos anos 30 do século XX em que foram vistos os últimos biocos.
 
 
 
 
 
O Capelo – Açores
 
 
À semelhança de outras regiões também a mulher açoriana usava agasalho capotes com capelo, diferindo o seu feitio de ilha para ilha.
 
Leite de Vasconcelos visitou os Açores no Verão de 1924 e testemunhou o uso de mantos e capotes pelas mulheres da ilha Terceira e do Faial. Com efeito até meados do século XX era frequente encontrar nos meios citadinos mulheres envoltas no seu capote preto e capelo armado.
 
Convém distinguir o manto do capote, o primeiro é uma saia comprida e rodada de cor preta, o segundo, afigura-se como uma capa muito ampla, mais farta lateralmente que nas costas.
 
No caso da utilização do manto, o capelo era armado com cartão e atado pela cintura, a mulher segurava-o com as mãos de modo a encobrir o rosto. Com o capote, o capelo era utilizado sobre os ombros. Neste caso, estamos perante um amplo capuz suportado por um arco de osso de baleia, sendo a sua rigidez conferida pelo forro de cânhamo.
 
 
Estamos assim perante três trajes, que para além da sua função de abafo, remete o papel da mulher para a total exclusão da sociedade, uma vez que, completamente coberta jamais alguém descobriria a sua identidade.
 
 
Dos três trajes apenas o dos Açores é ainda hoje identificado pelo público em geral, já que se tornou num símbolo dessa região e é amplamente divulgado pelos ranchos folclóricos. Quanto aos restantes, correm o risco de caírem no esquecimento e no ostracismo, já que não sendo bonitos ou ricos, não são mostrados pelos grupos das suas regiões de origem.
 
 
Bibliografia:

 
PITA, António, Côca ou Mantilha - Século XIX - Uma Traje de Festa e de Solenidade do Alto Alentejo – Câmara Municipal de Castelo de Vide, Secção de Arqueologia, Maio1999

Braz Teixeira, Madalena, Trajes Míticos da Cultura Regional Portuguesa, 1994, Museu Nacional do Traje.
 
Ormonde, Helena, in O Traje do Litoral Português, Museu Etnográfico e Arqueológico Dr. Joaquim Manso, Câmara Municipal da Nazaré
 

 
Publicada por Carlos Cardoso
 
 
 
 

sábado, 11 de maio de 2013

Lagoa, Portugal, 1929

Lagoa, Portugal, 1929
 
 
 
Filmes Castello Lopes - companhia produtora
 
Lagoa, Portugal, 1929
 
Género: documentário
 
Duração: 00:03:27, 16 fps
 
Formato: 35 mm, PB, sem som
 
AR: 1:1,33
 
ID CP-MC: 2008173-007-01.25.46.00

quinta-feira, 9 de maio de 2013

FARO - 1929 - Cinemateca Portuguesa

FARO - 1929
 
 
 
Filmes Castello Lopes - Companhia Produtora
 
Portugal, 1929
Género: documentário
Duração: 00:07:14, 18 fps
Formato: 35 mm, PB, sem som
AR: 1:1,33
ID CP-MC: 2002520-003-00.11.43.01

sábado, 4 de maio de 2013

Trigo Pereira e Rocha Pinto

 
 
Trigo Pereira e Rocha Pinto
 
Tem-se falado amiúde do Rocha Pinto no facebook. Há no entanto um outro, da mesma idade, sensivelmente, do qual também nunca mais ouvi falar que é o Trigo Pereira.
 
Tanto este como o Rocha Pinto moraram aqui nesta casa, o primeiro na casa de esquina e o segundo na habitação a seguir.
 
A família Trigo Pereira anda pela cidade, ou andava, pelo que me apercebi aqui há anos, tendo tido do conhecimento da existência de um Veterinário com este nome, salvo erro exercendo pelo menos parte das suas funções na antiga Cooperativa de Leite de Faro.
 
Quanto ao Rocha Pinto era um personagem singular que eu não conheci de muito perto, mas que sabia morar aqui e ter uma relação com o Desporto, não sei exactamente qual a modalidade, sendo de supor ser ou Basquetebol ou Andebol.
 
Acho que há por aí quem possa acrescentar mais qualquer coisa.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Supermercado Horta

 
 
Supermercado Horta
 
Aqui foi o Supermercado Horta, nesta altura fechado e para venda.
 
O Senhor Horta era um empresário que acreditava na iniciativa local (começou com uma mercearia), desenvolveu-se para fazer face à concorrência que vinha dos grandes supermercados que se iam instalando na cidade, mudou-se para a Urbanização das Laranjeiras, na zona da Penha, e segundo o que me constou associou-se ou vendeu o negócio ao Pingo Doce.
 
Esta associação terá feito com que ele fechasse este estabelecimento aqui, que se manteve aberto durante algum tempo em simultâneo com o outro, dado que no Estádio do Farense, havia um Pingo Doce que com este era concorrente e vice versa. O Pingo Doce acabou por sair do Estádio ao fim de alguns anos e ainda subvencionou o Farense.
 
Depois do falecimento do Senhor Horta, uma pessoa de agradável trato sempre, a coisa por aqueles lados deixou de vingar e neste momento não me parece que haja qualquer comparticipação Horta no actual Pingo Doce - Supermercado e/ou edifício na Urbanização das Laranjeiras.
 
É uma pena que as coisas tenham tido este curso. Este estabelecimento estava bem situado, tinha abundante clientela e preços, que não sendo dos mais atractivos eram no entanto razoáveis e valia também pelo trato familiar tradicional.
 
 

O Futebol Clube de S. Luis

 
 
O Futebol Clube de S. Luis
 
Esta agremiação, não sendo a mais antiga em Faro, teve um papel importante no campo desportivo, nomeadamente em Futebol, sendo uma das Escolas de Futebol mais conhecidas da cidade de Faro.
 
Ainda mantém actividade com algum relevo mas num ritmo, por aquilo que entendo, adaptado ao período de crise que para as agremiações de bairro começou bastante antes desta económica e financeira que vem desde 2008 e que estamos a viver.
 
Na verdade e deste assunto embora não seja especialista conheço um pouco o desenvolvimento do desporto nas Escolas (o que é uma coisa boa, esclareça-se) retirou a estas agremiações de bairro um pouco do poder atractivo que detiveram neste capítulo quase em exclusivo durante anos ao mesmo tempo que a sua função de convívio social foi perdendo também poder atractivo à medida que a condição económica das famílias foi melhorando globalmente.
 
As sociedades de bairro, durante muitos anos detiveram um monopólio relativo da recreação, através de materiais como a televisão e através de bailes e festejos, como as marchas populares.
 
Na sua grande parte, e conheço algumas, estas associações procuram reencontrar o esplendor que detiveram e nem sempre enveredando pelos caminhos certos...
 

Pontes de Marchil

 
 
Pontes de Marchil
 
Agora apelida-se de Pontes de Marchil toda a zona a seguir ao Fórum para quem sai de Faro mas no meu tempo e para nós, Pontes de Marchil era aqui.
 
Era a passagem de nível na estrada para o Monte Negro que levava uma eternidade fechada (acho que fechava logo que o comboio entrava em Faro de um lado e do outro não sei bem) e era por aqui que se ia à Praia de Faro à boleia.
 
As oportunidades eram maiores porque o trânsito também era maior. E para Pontes de Marchil havia o símbolo da Taberna, agora onde estão os Móveis Amaro aqui na foto, que servia para metermos água no organismo ou um Sofrutos ou Sumol.
 
A taberna, que agora já não é, para grande pena minha porque era um excelente ponto de encontro, tinha na Rua logo à direita um caminho para chegar ao famoso Baile das Pontes, onde se ia a pé a maior parte das vezes e na maior.
 
Agora quando me dizem Pontes de Marchil eu pergunto «onde?». Antes já sabia que era mesmo aqui e lá para trás da Taberna e junto à passagem de nível.

 

Café do Círculo em Olhão

 
 
Café do Círculo em Olhão
 
Aqui nesta esquina e ocupando todo o rés do chão, foi, no meu tempo, o Café que chamávamos do Círculo e que salvo erro pertencia a uma antiga associação de industriais e comerciantes de Olhão, daí que o seu nome total fosse Circulo Comercial e Industrial de Olhão.
 
Não atingindo, no meu tempo e na minha opinião, o prestígio do Café Aliança de Faro, era no entanto um café emblemático, com uma extensão de mesas e cadeiras grande e foi um local onde se podia estar a ler o jornal sem receio de estar a ocupar indevidamente espaço.
 
Não lhe conheço vida cultural ou tertúlias mas é bem provável que tenha seguido o percurso normal destas grandes extensões de convívio local, nomeadamente por ser frequentado também por pelo menos uma personalidade de prestígio em Olhão, penso que o Dr. Francisco Fernandes Lopes, que tinha uma peculiaridade de que oiço falar pouco: lia o jornal (Diário de Notícias na altura) desde a primeira palavra até à última, incluindo cabeçalho e anúncios, levando nisso cerca de duas horas corridas.
 
A memória dos povos também se faz com estas coisas.